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Pedagoga pela UNEB e Especialista em Docência Superior pela Universidade Gama Filho. CONTATO: ivelima1973@gmail.com

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O Sorriso de Monalisa: Ação docente para a transformação

Como sou cinéfila, gosto muito de abordar filmes para discutir as questões educacionais. O Sorriso de Monalisa é um grande exemplo de como as intervenções do professor levam os seus educandos ao desenvolvimento do senso crítico e, consequentemente à autonomia.

A professora de Artes interpretada por Julia Roberts demonstra em suas ações de planejamento, assim como a instituição na qual ela passa a trabalhar, a intencionalidade com que educam: a primeira, busca desenvolver a criatividade de suas alunas, enquanto a segunda apenas de seja que elas reproduzam seu papel social na sociedade capitalista burguesa. Assim, a concepção de educação norteia o processo de planejamento e de intervenção pedagógica.

A abordagem do filme remete também ao papel do educador como definidor do nível de interesse e aprendizagem pelo seu próprio exemplo, pela sua conduta e principalmente pela relação que estabelece com seu aluno dentro e fora do espaço escolar.

No Brasil, assim como demonstrado na realidade americana através do filme, houve também, na década de 30 até a década de 70, uma tendência à concepção de educação como “ajustamento” social, ou seja, uma forma de preparar o individuo para desempenhar os papeis sociais a ele delegados na conjuntura da dinâmica social.

Em contrapartida, as idéias progressistas e de transformação social trazidas pelas teorias de Marx e Gramsci, ampararam novas práticas que conduzem não a resultados e à produtividade, mas à formação emancipatória e cidadã, como é possível consultar em pensamentos de teóricos como Saviani e Freire.

A escola em que a Prof.ª Watson ensina atende ao Estado burguês emergente, como aparelho ideológico, a serviço, preparando espaço a classe emergente. Enquanto isso a Prof.ª Watson planeja “como forma de organizar e operacionalizar as finalidades sociais”  como objetivo de “contribuir para a superação da realidade dominante”.

Em outras palavras, fica claro no filme que as práticas pedagógicas utilizadas pelas instituições escolares neste período estão firmemente pautadas na disciplina e na manutenção da ordem como forma de preparar os indivíduos para a vida em sociedade.

Assim, pode-se concluir que havendo ou não um planejamento oficial e intencionalmente escrito com determinadas finalidades, o que se apresenta como prática pedagógica na rotina do espaço escolar “expressa consciente ou inconscientemente, um projeto histórico de sociedade, uma finalidade social da educação escolar”.

Neste sentido, a prof. Watson, ao perceber na sua primeira aula, que suas alunas apenas reproduziam discussões das obras contidas nos livros, replanejou seu trabalho, realizando intervenção pedagógicas para desenvolver nelas o potencial crítico para analisar as obras, o que, ao final do filme fica claro que ela consegue fazer. Tal atividade se reflete não apenas em sala de aula, mas em suas próprias vidas, como é a intenção quando a perspectiva do ato de planejar é intervir na realidade para superação dela.

NEWELL, M. O Sorriso de Monalisa. EUA, 2003

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Professor: que profissional é esse?

Gosto muito do filme " A Língua das Mariposas". Penso que define muito bem este papel...


A Língua das Mariposas aborda a temática do ingresso da criança na educação escolar, através da história do menino Moncho (Manuel Lozano), de sete anos. O foco da trama está na relação professor-aluno, já que se traz o referencial deste profissional como humano, caloroso, próximo e paciente, além de ser erudito, pesquisador e admirado pela comunidade.

A abordagem do filme remete ao papel do educador como definidor do nível de interesse e aprendizagem pelo seu próprio exemplo, pela sua conduta e principalmente pela relação que estabelece com seu aluno. O ingresso na escola é um grande desafio para a criança e, neste sentido, a figura do professor ganha destaque tanto quanto a forma com que conduz seu trabalho.

Fica claro no filme que as práticas pedagógicas utilizadas pelas instituições escolares neste período estão firmemente pautadas na disciplina e na manutenção da ordem como forma de preparar os indivíduos para a vida em sociedade, para a manutenção da ordem social, para temer a autoridade máxima e principalmente para não questionar.

Em contrapartida, o filme traz a figura de Don Gregório que, dentro do contexto educacional da época retratada as idéias de Marx, tendo em vista que a atitude desse educador contrasta com posicionamentos mais fortes e autoritários dos demais professores da época, ao permitir a socialização de conhecimentos, por incentivar a pesquisa o questionamento e, portanto, a apropriação do saber por parte do aluno. Don Gregório ensina a seus alunos novas posturas perante o mundo, onde as pessoas devem se respeitar, ter sensibilidade e jamais abandonar seus ideais.

Nas entrelinhas do filme há críticas à repressão política, ideológica, social ou cultural representada pelo fascismo na Espanha, pela análise do contexto da Guerra Civil Espanhola. Don Gregório representa o próprio espírito questionador, investigador do ser humano, que não se cala diante do que está posto como fato e busca sempre mais.

Este filme é recomendado para trabalhar com educadores por ser rico em aspectos referentes à prática pedagógica, à relação professor/aluno e à própria formação deste profissional, além de tocar em aspectos referentes ao próprio modelo de instituição escolar e de educação que está presente na sociedade.

CUERDA, José Luis. A Língua das Mariposas. Espanha, 1999. Roteiro de Rafael Ascona, Manuel Rivas e José Luis Cuerda 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Espaço escolar: um espaço de diálogo e construção coletiva

O modelo de escola que predomina na nossa sociedade é burguês, a concepção de educação que ampara a prática pedagógica de muitas de nossas escolas foi extremamente influenciado pelos pressupostos durkheimianos, tendo em vista que Durkheim, ao tomar a Educação como objeto de estudo da Sociologia, conclui que é a instituição escolar que deve preparar o indivíduo para a vida na sociedade capitalista moderna. O papel da Educação é de ajustar o indivíduo ao sistema, transformando a criança de um ser “egocêntrico” e “anti-social” em um ser “apto ao convívio social”. 

O espaço escolar, de modo geral, funciona como transmissor de determinada cultura, a serviço da conservação do sistema e conseqüentemente da manutenção da hierarquia e das relações e poder que movem a sociedade. A cultura é tida então como um tipo de capital e a apropriação desta cultura hegemônica dá ao indivíduo status social.



Esta dominação cultural, conforme as idéias de Saviani (2006), se constitui em violência simbólica, no sentido de que uma classe social impõe significações, impõe seus valores culturais como referência para as classes subalternas, de modo que tais relações acabam por confirmar as relações de poder e dominação de ordem material e econômica existentes na sociedade. no decorrer da nossa história a Educação é privilégio dos ricos, daqueles que são detentores de poder, sendo reservado aos pobres e, portanto, dominados, a condição da ignorância e da manipulação que decorre da primeira.

Entretanto, o modelo de educação burguês não é a única forma possível de educar e nem o modelo de escola criado na modernidade e sustentado pelo sistema capitalista é o melhor espaço de aprendizagem para os sujeitos inseridos na sociedade.

Neste sentido, o espaço escolar, compreendido agora não como lugar de reforço do sistema posto, mas como espaço de transformação social, tem o papel importantíssimo de exercitar a prática de avaliação, no sentido de analise de ações, de despertar e de conscientização para que, como prática reflexiva, se estenda para além dos muros da escola, para o exercício da cidadania. 

O que se espera como resultado desta proposta de educação é que se promova a apropriação dos bens culturais disponíveis, ao lado do desenvolvimento de competências relativas à capacidade de analise crítica, na formação do cidadão para agir na transformação da sua condição de dominado e explorado dentro da sociedade.

É nesta perspectiva, de humanização da sociedade e de libertação da condição de oprimido do trabalhador que serão apresentadas as idéias de Saviani (2006) sobre as questões educativas, tendo em vista que seu objetivo é formar cidadãos capazes de lutar pela superação da sociedade burguesa rumo à sociedade democrática em sua essência. Ou seja, é colocar nas mãos do educador “uma arma de luta” contra a dominação.

O objetivo desta proposta de educação é a criação das condições para o surgimento de uma nova cidadania, como espaço de organização da sociedade para a defesa de direitos e a conquista de outros tantos. Trata-se de formar para e pela cidadania para a gestação de um novo espaço público que leve a sociedade a ter voz ativa na formulação das políticas públicas, possibilitando mudanças na atual conjuntura política e social.  

Texto retirado da minha monografia de especialização em Docência Superior:
CARVALHO, I.L.P.M. A Formação Específica Para os Educadores de Educação de Jovens e Adultos - EJA. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 2010.