Como sou cinéfila, gosto muito de abordar filmes para discutir as questões educacionais. O Sorriso de Monalisa é um grande exemplo de como as intervenções do professor levam os seus educandos ao desenvolvimento do senso crítico e, consequentemente à autonomia.
A professora de Artes interpretada por Julia Roberts demonstra em suas ações de planejamento, assim como a instituição na qual ela passa a trabalhar, a intencionalidade com que educam: a primeira, busca desenvolver a criatividade de suas alunas, enquanto a segunda apenas de seja que elas reproduzam seu papel social na sociedade capitalista burguesa. Assim, a concepção de educação norteia o processo de planejamento e de intervenção pedagógica.
A abordagem do filme remete também ao papel do educador como definidor do nível de interesse e aprendizagem pelo seu próprio exemplo, pela sua conduta e principalmente pela relação que estabelece com seu aluno dentro e fora do espaço escolar.
No Brasil, assim como demonstrado na realidade americana através do filme, houve também, na década de 30 até a década de 70, uma tendência à concepção de educação como “ajustamento” social, ou seja, uma forma de preparar o individuo para desempenhar os papeis sociais a ele delegados na conjuntura da dinâmica social.
Em contrapartida, as idéias progressistas e de transformação social trazidas pelas teorias de Marx e Gramsci, ampararam novas práticas que conduzem não a resultados e à produtividade, mas à formação emancipatória e cidadã, como é possível consultar em pensamentos de teóricos como Saviani e Freire.
A escola em que a Prof.ª Watson ensina atende ao Estado burguês emergente, como aparelho ideológico, a serviço, preparando espaço a classe emergente. Enquanto isso a Prof.ª Watson planeja “como forma de organizar e operacionalizar as finalidades sociais” como objetivo de “contribuir para a superação da realidade dominante”.
Em outras palavras, fica claro no filme que as práticas pedagógicas utilizadas pelas instituições escolares neste período estão firmemente pautadas na disciplina e na manutenção da ordem como forma de preparar os indivíduos para a vida em sociedade.
Assim, pode-se concluir que havendo ou não um planejamento oficial e intencionalmente escrito com determinadas finalidades, o que se apresenta como prática pedagógica na rotina do espaço escolar “expressa consciente ou inconscientemente, um projeto histórico de sociedade, uma finalidade social da educação escolar”.
Neste sentido, a prof. Watson, ao perceber na sua primeira aula, que suas alunas apenas reproduziam discussões das obras contidas nos livros, replanejou seu trabalho, realizando intervenção pedagógicas para desenvolver nelas o potencial crítico para analisar as obras, o que, ao final do filme fica claro que ela consegue fazer. Tal atividade se reflete não apenas em sala de aula, mas em suas próprias vidas, como é a intenção quando a perspectiva do ato de planejar é intervir na realidade para superação dela.
NEWELL, M. O Sorriso de Monalisa. EUA, 2003
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